O propósito desse trabalho é, em primeiro lugar, abordar os temas do comércio ilícito de drogas e da integração mundial do sistema financeiro de um ponto de vista geográfico, entendido aqui como a visualização das dimensões espaciais e dos padrões geográficos que assumem no mundo contemporâneo. Em segundo lugar, com intuito mais específico, se pretende explorar quais as relações e até que ponto existe uma simbiose entre as organizações que exploram o comércio de drogas ilícitas, o sistema bancário, que realiza a lavagem de dinheiro, e o sistema financeiro, onde o dinheiro se transforma em capital. Simbiose no sentido de que embora sejam organizações dissimilares convivem numa relação mutuamente benéfica. Essa possibilidade já foi sugerida por alguns autores a partir do ângulo econômico (Lyman & Potter,1991; Sauloy & LeBonniec,1992; Blixen,1993). Uma abordagem geo-econômica e geo-política talvez permita encaminhar a idéia de que essa simbiose se apóia na contradição, presente na origem e no desenvolvimento do sistema capitalista, entre processos de transnacionalização e formação de mercados mundiais (no nosso caso, dinheiro e drogas) e o estado nacional.
Do ponto de vista estritamente geográfico, o mapeamento e análise da disposição espacial dos elementos que compõem essas organizações mostram não só a condição necessária de transnacionalidade das interações como também o papel peculiar e contingente que o território e as fronteiras dos estados nacionais estão assumindo nesse processo.
Machado, L. O. 1996. O comércio ilícito de drogas e a geografia da integração financeira:uma simbiose?. Em: I. E.de Castro, P.C.C.Gomes e R.L.Corrêa (Orgs.). Brasil. Questões Atuais da Reorganização do Território. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. pp. 15-64.