Duas concepções parecem ser eternamente válidas para muitos setores que lidam com as políticas públicas dirigidas à Amazônia brasileira, a despeito de mudanças no contexto, no conteúdo e nas formas de uso do território. A primeira delas é conceber o território como espaço vazio; a segunda é conceber a região como sistema fechado pelos limites internacionais do Brasil, o que do ponto de vista geográfico significa desvinculá-la da unidade maior formada pela bacia amazônica sul-americana. Concepções similares se encontram na bibliografia produzida pelos países vizinhos sobre suas próprias “amazônias”, igualmente fundamentadas em doutrinas de defesa e diferenciação de cada estado nacional.

Se durante grande parte do século XX, a baixa taxa de ocupação desses territórios, sua marginalidade em relação às grandes correntes de povoamento da América do Sul e a fragilidade de laços de integração física entre as diversas regiões amazônicas pareciam de certo modo justificar a permanência de tais concepções e sua incorporação aos esquemas geopolíticos de cada estado nacional, nos dias atuais conjunções novas, tanto internas como internacionais, mostram a inadequação desses conceitos. Movimentos imigratórios e de colonização, a implantação de atividades econômicas, e uma maior integração aos centros econômicos e políticos de cada estado nacional são eventos no plano nacional que pouco tem a ver com a concepção de ‘espaço vazio’. Talvez mais importante que as mudanças internas a cada país sejam as mudanças na conjunção internacional.

[PDF]

Machado, L.O. Região, cidades e redes ilegais. 2003. Em: M.F.Gonclaves, C.A.Brandão e A.C.Galvão (Orgs.). Região e cidades, cidades nas regiões. O desafio urbano-regional. São Paulo: UNESP. pp. 695-707.