Esse trabalho corresponde a uma parte da pesquisa de doutorado que originou a tese “Segurança na América do Sul: a construção regional e a experiência colombiana” (PPGG/UFRJ). A construção da segurança regional na América do Sul é um processo contraditório de avanços e retrocessos que pode ser trilhado a partir da formação de um âmbito institucional regional e dos sucessivos eventos que têm desafiado a consolidação de um espaço político regional autônomo. Numa abordagem geopolítica, nos propomos a confrontar a cronologia dos avanços institucionais da integração sul-americana, manifestos na formação da UNASUL e do CDS, com os episódios críticos que foram objeto da mediação política dessas instituições. O trabalho busca explorar três momentos demarcados pela evolução institucional sul-americana. O primeiro se estende da primeira reunião entre presidentes sul-americanos realizada em setembro de 2000, que originou um processo de integração institucional dos países da América do Sul em diversos setores, até maio de 2008, quando é criada a UNASUL. O segundo momento é o curto período entre a maio de 2008 e a criação do CDS, em dezembro de 2008. O terceiro momento é posterior à criação do CDS, tomando os primeiros efeitos do Conselho na mediação de conflitos e na cooperação em matéria de segurança e defesa entre os países sul-americanos. Como método de análise, utilizamos a leitura dos documentos publicados pela UNASUL para avaliar os desdobramentos das ações conjuntas considerando o envolvimento diferenciado de cada país. Desde 2000 diversos acontecimentos políticos entraram na pauta regional sul-americana, com diferentes respostas. Entre 2000 e 2008, destacamos a implantação do Plano Colômbia e da base militar norte-americana em Manta, no Equador, no ano 2000, e a tentativa de golpe militar na Venezuela em 2002, eventos anteriores à UNASUL. A necessidade de um posicionamento regional frente às tensões fronteiriças entre Colômbia, Equador e Venezuela por conta das ações militares contra a guerrilha em março de 2008 foi utilizada como um argumento favorável à criação da UNASUL, dois meses depois.Já em meados de 2008, temos a crise política na região boliviana da Media Luna, intermediada pela UNASUL, porém anterior ao CDS. Por fim, a instalação de bases militares norte-americanas na Colômbia, em 2009, evidenciou alguns dos limites do CDS e da UNASUL. A resolução da polêmica instaurada com as bases norteamericanas foi uma acomodação da UNASUL às condições impostas pela opção unilateral colombiana. O que podemos concluir é que a integração sul-americana e a formação de um âmbito institucional regional pressupõem idas e vindas que, por um lado, relativizam o sucesso das iniciativas que se acumularam nos últimos 15 anos, e, por outro lado, produziram respostas institucionais diferenciadas que configuram importante experiência para a avaliação dos limites e das possibilidades de construção de uma segurança regional sul-americana.

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Rego Monteiro, Licio Caetano do. A União das Nações Sul-Americanas (UNASUL) e o Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS): avanços e limites na construção da segurança regional da América do Sul. Anais do I Congresso Brasileiro de Geografia Política, Geopolítica e Gestão do Território, 2014