A exploração da energia hidrelétrica na Amazônia é uma questão que interessa a toda a nação brasileira, devido a grandeza do potencial hidráulico da bacia do rio Amazonas. É também uma questão regional, envolvendo os interesses e expectativas de seus habitantes, e o uso de recursos não explorados do território amazônico. O que parece ser uma afirmação óbvia não é tão óbvio assim quando nos damos conta da visão que os habitantes de outras regiões do Brasil guardam da Amazônia. Indivíduos, corporações ou setores do próprio governo federal tendem a tratar a região como um espaço vazio. Na acepção usual, os espaços vazios são aqueles que apresentam baixa densidade demográfica e o domínio da paisagem “natural”. No decorrer da história do Ocidente, essa noção adquiriu uma conotação político-militar, no sentido de proteção ou segurança do território de um Estado, e, mais sutilmente, um sentido de valor, uma vez que também tem sido empregada para definir a relação de contato com populações aborígines, no caso dessa população ser valorada negativamente por critérios étnicos ou econômicos.

Se a imagem de “espaço vazio” induz à uma simplificação grosseira e distanciada das realidades regionais, a conversão da Amazônia em objeto de investigação científica tem levado ao tratamento da região como uma unidade em si mesma, circunscrita e isolada do conjunto das terras brasileiras, ponto de vista dominante entre os cientistas e técnicos estrangeiros, porém adotada, até com certa freqüência, pelos nacionais. Por outro lado, quando vista exclusivamente como parte do território nacional, a tendência é de isolar a região do conjunto maior, a Amazônia sul-americana.

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Machado, L.O. 1995. Sistemas “longe do equilibrio” e restruturação espacial na Amazônia. Cadernos IPPUR, 91/4: 83-106.