Nosso objetivo no presente trabalho foi analisar como se modificou o território Paresi a partir da intensificação de suas relações com os não-índios, na segunda metade do século XX. Nossa abordagem teórica foi baseada principalmente na noção de territorialidade, como proposta por Robert Sack, e no conceito de território desenvolvido por Claude Raffestin. Procuramos, primeiramente, estabelecer como era o território Paresi no início do século XX e, brevemente, como este território foi parcialmente desarticulado a partir das relações estabelecidas com as frentes extrativistas e as Linhas Telegráficas. A partir da década de 1960, com a construção da BR 364 e os projetos de desenvolvimento e ocupação governamentais, amplia-se a presença de atores não-índios na Chapada dos Parecis. Ocorre a partir daí a imposição de territorialidades baseadas na linearidade dos limites e na exclusividade do uso dos recursos. Ações e acontecimentos em escalas distintas vão delineando uma nova territorialidade Paresi, em contraponto a dos atores não-índios, também baseada na presença de limites lineares e definidos a partir de uma série de ações legais estranhas aos povos indígenas. Já a partir década de 1990, com a maior parte das Terras Indígenas já demarcadas, os Paresi procuram novas estratégias de reprodução social que possam se adaptar a nova territorialidade, no que estão incluídas as Parcerias Agrícolas e o pedágio na rodovia Nova Fronteira.

Arruzzo, Roberta Carvalho. 2009.  Construindo e desfazendo territórios: As relações territoriais entre os Paresi e os não-índios na segunda metade do século XX. Tese (Doutorado em Geografia) – Programa de Pós Graduação em Geografia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.