Ao longo do extenso limite internacional continental do Brasil (15.700km) observam-se situações diversas de intercâmbios trans-fronteiriços, não apenas em função das diferenças geográficas, mas também devido aos tipos de relações com os países e regiões subnacionais vizinhas. Constituem-se assim espaços transitivos diferenciados, em que interações multi-escalares se estabelecem a partir das simetrias e assimetrias entre os sistemas territoriais confrontantes e cujos efeitos territoriais possuem extensão e intensidade variadas.

No caso da área de estudo deste trabalho, é bastante conhecida a história pregressa de ocupação das áreas do leste acreano no Brasil e do norte amazônico boliviano por grandes seringais e a intensa mobilidade de trabalhadores desde o último quartel do século XIX, origem da famosa “questão acreana” que culminou com a compra pelo Brasil de 251.000 km2 de terras bolivianas (1903). Existe, portanto, um histórico de ´capilaridade´ fronteiriça, ou seja, de interações espontâneas entre o leste acreano e o departamento de Pando que se mantém até hoje, embora com características diversas daquelas do passado.
O predomínio de intercâmbios não planejados pelos respectivos governos centrais resultou na constituição de uma zona de integração espontânea, baseada em trocas difusas e limitadas redes de comunicação entre as regiões fronteiriças vizinhas. A exceção em relação a este padrão é a tríade de adensamentos populacionais “geminados” (cortados pelo limite internacional) formada pelas cidades brasileiras de Brasiléia e Epitaciolândia (do lado brasileiro) e pela capital do departamento de Pando, Cobija, (capital do departamento de Pando). Aí, os fluxos trans-fronteiriços (de mercadorias, capital, trabalho, etc.) são frequentemente promovidos por meio de ações nacionais ou binacionais gerando forte intercâmbio econômico e cultural.

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Ribeiro, L. P. 2009. Reestruturação Territorial e Interações Espaciais na Zona de Fronteira Acre (Brasil) – Pando (Bolívia). In: 12º Encuentro de Geografos de America Latina – Caminando en una América Latina en transformación, 2009, Montevideo.